GUSTINE, Texas – Uma máquina enorme percorre a fazenda de Frank Volleman dia e noite. Ela possui um tanque de 11 mil litros de capacidade, bomba a vácuo e mangueiras e, em sua parte inferior, lâminas que raspam a superfície.
Sua função guarda semelhanças com a das máquinas que tratam da superfície de rinques de hóquei no gelo. Mas a fazenda não é um rinque, e não é gelo que as lâminas raspam -é estrume de vaca. E em grandes quantidades. Uma vaca Holstein, durante a lactação, produz cerca de 70 kg diários de dejetos -dois terços fezes, um terço urina. A fazenda Wildcat Dairy, de Volleman, produz cerca de 91 milhões de quilos de estrume por ano. O tratamento correto do material é uma das tarefas mais importantes a serem realizadas por donos de gado leiteiro, criações de gado para corte, produtores de suínos ou qualquer fazendeiro que tenha muitos animais. O estrume precisa ser tratado de maneira ambientalmente correta e a um custo aceitável. Na maioria dos casos isso significa o uso do estrume como fertilizante. "Corretamente utilizado, o estrume é um grande recurso", disse Saqib Mukhtar, professor de engenharia biológica e agrícola na Universidade do Texas A&M e especialista em gerenciamento de estrume. Mas, como revela a incidência crescente de problemas ambientais e de saúde ligados à agricultura, quando o estrume não é corretamente tratado, os nutrientes presentes nele podem poluir rios, lagos e aquíferos; seus patógenos podem contaminar alimentos, e os gases que ele produz, que incluem amônia, metano e compostos malcheirosos, podem incomodar vizinhos e poluir a atmosfera. Mesmo com as melhores práticas, o estrume pode causar problemas ambientais. Por isso, pesquisadores estudam maneiras de melhorar seu tratamento, modificar os nutrientes que contém e desenvolver utilizações alternativas. Volleman transferiu-se de Luxemburgo para o Texas há 16 anos e se orgulha de sua operação, que produz 95 mil litros de leite por dia. "O importante é manter tudo limpo e confortável e produzir leite de alta qualidade", diz, acrescentando que o que é bom para suas vacas é bom para ele. "São as vacas que preenchem meus holerites." Entre os 40 funcionários da Wildcat Dairy, há alguns que cuidam do estrume 24 horas por dia. Quando o tanque de coleta está metade cheio, um trabalhador abre uma válvula e espalha o estrume para secar. Duas vezes por semana, os resíduos sólidos são espalhados pelo campo, onde atuam como fertilizante. O estrume de Volleman é espalhado apenas em seus campos e nos de vizinhos. "Levamos o estrume aos campos deles, eles o espalham para fertilizar suas plantações, e nós trazemos o que eles plantam de volta para alimentar as vacas", disse o fazendeiro. "É uma espécie de círculo fechado." Os líquidos presentes no estrume também fazem parte de um círculo fechado. Todos os dejetos líquidos da fazenda são tratados tendo a gravidade em mente. Eles são drenados para a primeira de três lagoas interligadas e revestidas de argila compactada. A primeira lagoa é escura e borbulhante e tem bactérias anaeróbicas que digerem a matéria orgânica e reduzem o odor. Quando a água chega à terceira lagoa, já está suficientemente limpa para ser bombeada até os equipamentos que irrigam os campos. Mas a margem de erros possíveis no manejo de sólidos e líquidos é estreita. Os fazendeiros precisam planejar onde e quando espalhar o estrume seco, tanto para evitar queixas de mau cheiro de vizinhos quanto para evitar a aplicação excessiva de nutrientes que podem escapar sob efeito de chuvas fortes. Os problemas com emissões podem ser reduzidos, mudando-se a maneira com que o estrume é aplicado. Segundo Mukhtar, arar a terra logo após a aplicação de estrume seco pode ajudar a reduzir os odores. E, se o estrume é injetado diretamente sob forma semilíquida, a amônia pode ligar-se melhor ao solo, disse Robert T. Burns, professor do departamento de engenharia agrícola e de biossistemas da Universidade Iowa State. Quando se trata da parte líquida, também há um equilíbrio delicado a ser mantido. As normas variam de Estado para Estado nos EUA, mas, no Texas, as lagoas de estrume precisam ter dimensões suficientes para não transbordar em caso de temporais, do tipo que ocorrem em média apenas uma vez a cada 25 anos. O perigo é que um transbordamento de uma lagoa leve a matéria orgânica a um riacho ou outra via hídrica e cause a morte de peixes.
Volleman diz que suas lagoas são maiores do que o exigido. E a fazenda tem bermas em volta de seus 32 hectares para minimizar os riscos, em caso de transbordamento. Nem todos os criadores de gado são cuidadosos, porém. "Existem maus operadores em todos os setores da vida", disse Mukhtar. Folha de São Paulo Autor: HENRY FOUNTAIN