Como fazer fluidoterapia veterinária e cuidados necessários

A fluidoterapia veterinária é um importante tratamento de suporte que, em muitos casos, pode salvar a vida dos animais. Porém, antes de realizá-la é indicada uma avaliação prévia para investigar a causa primária da doença. E, também, escolher o tipo de fluido que será utilizado, assim como a via pela qual ele será administrado.

Como o procedimento é muito utilizado em casos de desidratação, que exigem decisões rápidas, o conhecimento da técnica por médicos veterinários é essencial já que cerca de 60% do corpo dos cães e gatos é composto por água.

Para te ajudar a entender melhor, neste artigo vamos abordar o que é a fluidoterapia, quando ela é indicada e quais os cuidados na hora de realizar o procedimento. Confira!

O que é Fluidoterapia Veterinária

A fluidoterapia veterinária consiste em um tratamento de restauração do volume e composição dos líquidos corporais à normalidade. Além da manutenção do equilíbrio dos eletrólitos e líquidos externos, de modo que a introdução destes componentes por meio de medidas terapêuticas, corrija as perdas de líquidos e o equilíbrio eletrolítico. 

Assim, seus principais objetivos são expandir a volemia, corrigir desequilíbrios hídricos e eletrolíticos, suplementar calorias e nutrientes e auxiliar no tratamento da doença primária. 

Como fazer

O primeiro passo da fluidoterapia veterinária é a avaliação do paciente para determinar a causa primária da desidratação.

Para classificar o estado físico do paciente e estimar o tipo (hipotônica, isotônica ou hipertônica) e a porcentagem de desidratação (muito suave, suave, moderada, severa e choque) é preciso levar em conta a tonicidade do fluido corporal remanescente, o histórico do animal, colher informações com o proprietário e realizar exames físicos. 

O profissional deve então avaliar o turgor cutâneo, a umidade das membranas mucosas, posição do globo ocular na órbita, frequência cardíaca, característica do pulso periférico e tempo de preenchimento capilar e associá-los a achados laboratoriais.

Após realizar a avaliação clínica e laboratorial e classificar o tipo e porcentagem de desidratação que o paciente apresenta, é preciso escolher o tipo de fluido a ser utilizado. Estes são classificados de acordo com o tamanho molecular e permeabilidade capilar (colóides ou cristalóides), osmolaridade (hipotônicas, isotônicas ou hipertônicas) ou tonicidade, e função pretendida. 

A fluidoterapia compreende três etapas, sendo elas: 

Reanimação

Normalmente é necessária em casos de emergência, onde se devem repor perdas ocorridas devido a uma patologia existente, como: pacientes em choque, quando é preciso administrar uma grande quantidade de fluido para que possa expandir o espaço intravascular, corrigindo o déficit de perfusão. Ou ainda pacientes com vômito e/ou diarréia severa. 

Reidratação

É a etapa de reposição, onde se necessita repor a volemia e as perdas dos compartimentos intra e extracelular. 

Manutenção

É utilizada em casos de pacientes com hidratação normal, mas que não conseguem ingerir volume de água adequado para manter o equilíbrio dos fluidos. 

A administração de fluidos pode ser feita por diferentes vias, sendo elas: 

Via oral

É a mais fisiológica, econômica e fácil, pode empregar qualquer tipo de fluido e não deve ser a única via em pacientes muito desidratados, já que ocorre de forma lenta e constante. Deve ser empregada em pacientes sem vômito, mesmo naqueles que estão recebendo fluído por outras vias.

Intravenosa

É a mais indicada por ser versátil e permitir rápida expansão de volume, visto que ocorre diretamente na corrente sanguínea. As principais indicações são para animais muito doentes, com desidratação grave e situações emergenciais. Porém exige cuidado, pois grandes volumes de fluidos administrados rapidamente podem determinar sobrecarga do sistema circulatório, provocando edema pulmonar e até a morte. 

Intra-óssea

É uma excelente alternativa à intravenosa em pacientes pequenos, particularmente filhotes muito desidratados, no entanto não é muito utilizado porque apresenta riscos e dificuldades. As principais vantagens são que os fluidos administrados intra-ósseo caem diretamente na corrente sanguínea, o rápido acesso às circulação periférica e central, grandes volumes líquidos podem ser administrados.

Subcutânea

É o método mais prático, fácil e barato, sendo um dos mais utilizados. Entretanto, não deve ser empregado em pacientes com vasoconstrição periférica (muito desidratados), hipotensos e hipotérmicos ou que apresentam comprometimento circulatório e necessitam de um período de equilíbrio e absorção. Não se deve administrar fluídos sem eletrólitos ou hipertônicos sendo as soluções isotônicas de Ringer lactato e solução salina a 0,9% os fluidos de escolha para a aplicação subcutânea. 

Além dessas, é possível citar a s vias enteral, retal e intraperitoneal.

Após ter avaliado o paciente, classificado o tipo e a porcentagem de desidratação, escolhido a via de administração e o tipo de fluído a ser empregado, deve-se estabelecer o volume de administração deste componente e calcular a velocidade ideal de administração. 

Para estabelecer o volume, o clínico deve levar em conta as etapas de reidratação, manutenção e reanimação. O cálculo de reidratação deve ser realizado por um especialista experiente, levando em consideração a porcentagem de desidratação e o peso corporal do animal. Para o da manutenção, é preciso considerar as perdas perceptíveis e imperceptíveis e por fim, as perdas ocorridas entram no cálculo da reanimação.

Para evitar falhas na obtenção da reidratação, as perdas precisam ser reavaliadas durante o dia e durante toda a reposição hídrica.

Quando a hidratação se restabelece e o animal consegue manter o equilíbrio de fluido mediante o consumo de água e alimentos, a fluidoterapia deve ser interrompida. A indicação é que à medida que o animal se recupera,  o volume de fluido deve ser reduzido em 25 a 50% por dia. 

Quando é indicada

Os casos mais comuns de indicação para fluidoterapia são para correção de:

  • Desidratação;
  • Hipocalemia;
  • Acidose metabólica.

Porém também pode ser indicada para correção específica de:

  • Hipernatremia;
  • Hiponatremia;
  • Hipercalemia;
  • Alcalose metabólica;
  • Hipocalcemia;
  • Hipercalcemia.

Sendo ainda indicada para nutrição parenteral e para repor perdas concomitantes ou prévias devido a diarréias, vômitos, pneumonias, queimaduras, feridas extensas ou acúmulo de fluido em terceiro espaço.

Cuidados para realizar o procedimento

Na hora de realizar o procedimento é fundamental classificar o tipo de desidratação visto que o fluido a ser administrado precisa ser igual ao perdido. 

A escolha do fluido também precisa ser feita de forma criteriosa sendo que pacientes com vômito agudo de conteúdo estomacal, hiperlactatemia, insuficiência hepática ou com linfossarcoma, não podem receber lactato. 

Já os pacientes em choque, com hipoadreno ou obstrução uretral não devem receber potássio. Ou seja, os casos precisam ser avaliados criteriosamente para evitar erros. Em caso de dúvidas, o melhor é optar por ringer simples em solução fisiológica. 

Os cuidados também devem seguir na hora de escolher a via de administração e calcular o volume e a velocidade ideal. Isto porque a entrada de muitos fluidos no corpo do animal de maneira errada, além de não reverter a situação, pode até agravar ainda mais o quadro clínico.

Para garantir o emprego correto da fluidoterapia veterinária o profissional necessita conhecer a fisiologia dos líquidos corporais, saber escolher o fluido de acordo com o tipo de desidratação e também das causas relacionadas.

Para evitar que o animal fique desidratado é muito importante tomar alguns cuidados preventivos como evitar que ele fique exposto ao sol forte por longos períodos, manter o animal afastado de alimentos estragados para evitar vômitos e diarréias. Além de manter o local onde eles ficam bem higienizados para evitar contaminação por vermes, parasitas e bactérias.

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Fontes:

TradeVet, UFRGS, Revista Veterinária, Consulta DogVet, Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, Unesp.  

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