Exame Odontológico em Cavalos: 7 passos essenciais para diagnóstico de desordens orais

Exame Odontológico em Cavalos

Problemas nos dentes dos equinos são bastantes comuns no dia a dia do campo. E, mais do que a dor em si, podem fazer o animal perder completamente o rendimento, ter dificuldades para se alimentar e ainda levar o criador perder seu investimento feito em boas formulações de ração e até mesmo na reprodução. Por isso, é essencial o atendimento veterinário regularmente e a correta realização do exame odontológico em cavalos.

No entanto, por mais que realizar um exame odontológico em cavalos pareça um procedimento simples, na verdade, trata-se de um procedimento que precisa de atenção em todas as etapas. Afinal, um problema mal diagnosticado pode causar complicações ao animal e ainda levar a perda de credibilidade diante do criador.

Apesar da importância do exame odontológico em cavalos, cerca de apenas 1% dos animais costumam receber atendimento já que outras enfermidades costumam ser prioridade, o que certamente se trata de um erro. O ideal seria que todo equino dispusesse de assistência médica preventiva, incluindo a odontológica, uma vez ao ano.

A seguir, montamos um passo a passo com as etapas do exame odontológico em cavalos e algumas dicas para sua realização. Confira!      

PASSO 1:  Anamnese

Antes de se iniciar o exame clínico, dados do histórico do animal devem ser coletados . Informações como idade, a frequência das refeições e o tipo de alimentação oferecida ao animal devem ser avaliados durante a anamnese.

Isso porque a quebra mecânica dos alimentos ocorre apenas na boca. Falhas no processo de mastigação e trituração causam alterações significativas na digestibilidade. Por isso, é importante perguntar sobre perda de peso e casos de cólicas recentes e suas frequências.

Em resumo, as principais questões a serem levantadas são:

– Comportamento;

– Nutrição;

– Performance.

ATENÇÃO: Nunca induzir as respostas e sempre considerar “lacunas” nas informações.

PASSO 2:  Inspeção geral

A inspeção geral do exame odontológico em cavalos deve começar pela avaliação visual do estado geral do animal. Observar se o animal apresenta escore corporal ruim, pelos opacos e eriçados, e apatia podem revelar sinais de problemas com o trato digestório, inclusive problemas na boca e nos dentes. É importante observar que a halitose também é sinal de problemas na boca, ocorre quando tem acumulo de comida entre os dentes.

Então, o animal deve ser observado a distância quanto ao estado nutricional e simetria do crânio. Próximo ao animal a inspeção visual pode ser associada à palpação para verificação de assimetrias do crânio, aumento de volume, fistulas, ausência e fraturas dentárias, dentes longos (incisivos), fraturas de mandíbula ou maxila. Os lábios e comissuras labiais podem apresentar úlceras escaras e cortes. A palpação das articulações têmporo-mandibulares podem revelar sensibilidade dolorosa.

Em resumo, observe e classifique:

  • Escore corporal;
  • Postura;
  • Comportamento

ATENÇÃO: Importante notar se há aumentos de volume na face (maxilar ou mandíbula).

PASSO 3:  Avaliação da Apreensão, mastigação e deglutição

Do mesmo modo, é extremamente importante observar como o paciente se alimenta. O conhecimento do ciclo mastigatório e a observação da extensão da excursão lateral da mandíbula são fundamentais. As funções de apreensão, mastigação e deglutição são avaliadas permitindo-se ao cavalo beber e pastar. Caso o alimento seja oferecido com a mão, a apreensão não pode ser adequadamente avaliada.

A capacidade de pastar do chão requer ausência de lesões dolorosas que impeçam a extensão e o abaixamento da cabeça e pescoço e abertura e fechamento da boca. Os dentes incisivos devem ser capazes de prender o pasto, o que fica difícil se apresentarem alterações de oclusão em decorrência da idade, de doença ou de traumatismo.

A inspeção dos dentes incisivos deve ser feita conforme orientação abaixo

Separando os lábios superiores e inferiores, verifique:

  • Número de dentes incisivos;
  • Dentes decíduos;
  • Dentes permanentes;
  • Oclusão;
  • Excursão lateral;
  • Fraturas;
  • Diastemas.

ATENÇÃO: Aproveite as informações para estimativa da idade.

PASSO 4:  Contenção do cavalo

Na hora do exame odontológico, os cavalos podem ficar agitados e agressivos, podendo inclusive, causar acidentes com o médico veterinário. Sendo assim, algumas medidas de contenção devem ser adotas, tais como:

Pode ser necessário:

  • Cachimbo;
  • Tronco;
  • Tranquilização/sedação;
  • Anestesia local;
  • Anestesia geral.

ATENÇÃO: Existem diferentes fármacos, dosagens e associações para situações diversas.

É importante salientar ainda que os cavalos são muito sensíveis e podem ficar estressados quando colocados de frente para a parede do curral

PASSO 5:  Inspeção dos dentes caninos, pré-molares e molares

Os dentes pré-molares podem ser examinados superficialmente forçando o cavalo a abrir a boca. Isto é feito puxando a língua gentilmente para fora e para um lado, tomando cuidado para evitar tração excessiva que possa romper o frênulo. Uma maneira de palpar a face vestibular dos pré-molares é introduzir o dedo indicador através da rima bucal forçando o dedo contra o vestíbulo, para evitar acidentes com a superfície oclusal dos dentes.

Assim, o exame de excursão lateral é feito através de movimentos mecânicos laterais com as arcadas incisivas em contato oclusal movendo-as lateralmente, até uma distância da largura de um dente incisivo (pinça), equivalente a 10 a 20 mm de largura, antes de se afastarem. As deficiências de movimentos laterais da mandíbula estão, na maioria das vezes, relacionadas à presença de pontas excessivas de esmalte dentário, desalinhamento de incisivos, PM e M e dor na ATM.

Realizando limpeza oral com água e utilizando lanterna e espelho, avalie também a presença de:

  • Dentes caninos, de lobo ou decíduos/capas dentárias;
  • Ganchos rostrais;
  • Ganchos caudais;
  • Pontas excessivas de esmalte dentário;
  • Ondas;
  • Degraus;
  • Ausência de dentes;
  • Fraturas;
  • Diastemas;
  • Ferimentos na mucosa ou língua;
  • Gengivite;
  • Placa ou cálculo (principalmente nos caninos).

PASSO 6:  Colocação do abre-boca

O exame clínico completo e seguro dos dentes requer o uso de um afastador, chamado popularmente de “abre-bocas”. Os abre-bocas apresentam diversos modelos, sendo indicados os autoestáticos, que mantêm a boca aberta através de pressão aplicada sobre todos os incisivos, desse modo distribuindo o peso . Este afastador é conectado a tiras como uma cabeçada, ou cabresto.

Então, o abre-boca é colocado passando-se uma tira atrás das orelhas e, à medida que a tira vai sendo apertada, as placas dentárias são forçadas entre os incisivos. Uma vez que o abre-boca esteja no lugar, com as placas contra as superfícies oclusivas e labiais dos dentes incisivos, as alças laterais são afastadas, abrindo assim a boca. A utilização de um foco de luz e um espelho odontológico possibilita a realização de um exame detalhado e eficaz da cavidade oral e das arcadas dentárias.

Conte com a ajuda de um auxiliar:

  • Monte o abre-boca;
  • Posicione em frente aos lábios do cavalo;
  • Passe a tira por trás das orelhas;
  • Enquanto ajusta a tira, force-o entre os incisivos;
  • Após o encaixe force a abertura pelas laterais, simultaneamente;
  • Regule a amplitude de abertura necessária.

PASSO 7: Anotação

Tenha uma ficha de atendimento odontológico e anote todas as informações pertinentes. Ela serve como documento e auxilia no acompanhamento do paciente.

Portanto, não confie tanto em sua memória! Lembrar de um pode ser fácil, lembrar de cem será muito difícil!

Com esse passo a passo certamente ficará mais fácil para você realizar um exame odontológico em cavalos nos seus atendimentos. Para garantir precisão na sua avaliação, o ideal é investir em conhecimento específico na área. Para isso, conheça o Curso Prático de Odontologia Equina do CPT Presenciais

Fonte: Revista Veterinária

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