O conhecimento e a manipulação da duração do ciclo estral de éguas assim como as suas fases têm-se tornado muito importante para o manejo reprodutivo. Principalmente com a crescente utilização de técnicas de inseminação artificial e transferência de embriões na espécie.
Além disso, muitas vezes a quantidade de sêmen disponível de garanhões de alto valor genético é limitada, o que torna ainda mais necessária a diminuição do número de inseminações perdidas durante um ciclo. Além disso, se uma égua perde o seu período reprodutivo, é um ano perdido, afinal, são animais poliéstricos estacionais e manifestam o comportamento reprodutivo nos períodos de maior incidência de luz solar – primavera e verão.
Com base nisso, a procura por um melhor entendimento do funcionamento do ciclo estral de éguas aumentou. Neste artigo vamos explicar sobre esse funcionamento, as suas fases e como fazer o monitoramento.
O que é ciclo estral em éguas?
O ciclo estral de éguas compreende uma série de alterações anatômicas e endócrinas que preparam a fêmea para a ovulação. É também o período de tempo que estende entre uma ovulação.
Nesse sentido, é comum que o organismo desses animais repita o ciclo várias vezes, ou seja, são poliéstricos, para que o corpo esteja preparado para receber a concepção.
Em geral, o ciclo estral de éguas dura cerca de 3 dias mais do que as vacas, ou seja, de 22 a 25 dias. É importante destacar que esse comportamento ocorre nas estações com maior incidência de luz solar. Isso ocorre porque o animal necessita de mais luminosidade para apresentar o cio pois inibe a glândula pineal a produzir a melatonina, que é o hormônio responsável pela regulação dos ritmos do corpo, relógio biológico e sono.
Já o GnRH, que é o hormônio que libera a gonadotrofina atua na adeno-hipófise, provocando a liberação de LH (hormônio luteinizante) e o FSH (hormônio estimulante do folículo), que produz o estrogênio. Dessa forma, há um desenvolvimento máximo do folículo e consequentemente um pico de estrogênio (estimula a receptividade da égua), próximo a ovulação, levando a égua ao cio.
Nos meses de inverno essa atividade hormonal se torna bastante reduzida, conhecida como anestro sazonal. Vale lembrar que existe um período de transição entre os meses de ciclicidade e anestro, em que há atividade ovariana mas não suficiente para que haja a inseminação.
Além da luminosidade, fatores como nutrição, temperatura e estado sanitário podem alterar os padrões de ciclo estral.
Outro detalhe importante é que, na égua o padrão de desenvolvimento folicular é menos definido que na vaca. Isso pode determinar não só uma longa duração no período de estro, como também uma elevada incidência de ovulações múltiplas. Além disso, grande parte ovulações ocorre 24 a 48 horas antes do final do estro.
Esta relação do momento de ovulação com o final do estro dificulta sua determinação exata, prejudicando muitas vezes a utilização de programas que envolvam sincronização de cio, como no caso da utilização de inseminação artificial.
Quais são as fases do ciclo estral?
O ciclo estral está dividido em algumas fases. Cada uma delas cumpre um papel importante no período reprodutivo. Confira!
Proestro
O proestro é o período em que ocorre a maturação de um ou mais folículos, sob a influência do FSH. Dessa forma, esse folículo começa a secretar o estrógeno que suprimem os níveis de progesterona em declínio e afetam diretamente os órgãos genitais. A maturação dura de dois a seis dias.
Estro
A fase do estro é definida pelo momento em que ocorre a ovulação e a égua se encontra receptiva sexualmente. Isso ocorre porque os folículos secretam o estrógeno que é responsável pelo cio e, dessa forma, estimula o crescimento uterino.
Esse período dura em média 5 a 7 dias sendo que a ovulação ocorre no terço final do cio. No entanto, nem sempre é possível identificar o cio com facilidade, sendo necessário o acompanhamento folicular, por meio do exame de ultrassonografia. . Essa manifestação é muito comum no período conhecido como “cio do potro”, que ocorre entre 5° e 15° dia pós parto.
Metaestro
É considerado um estágio de transição no qual o estrógeno entra em declínio e em seguida, com o aumento da progesterona. Então, logo depois da ovulação ocorre formação de corpo lúteo, que se desenvolve em três ou quatro dias formando uma glândula hormonal. No caso de fecundação e desenvolvimento do embrião, o corpo lúteo é mantido por período mais longo. Quando não ocorre a fecundação, ele atrofia.
Diestro
No diestro há uma elevação maior da secreção de progesterona pelo corpo lúteo, a fertilização dos ovócitos e a subsequente gestação . Também é o período durante o qual a égua não aceita o garanhão. Depois da ovulação e do desenvolvimento do folículo, o seu trato genital se prepara para receber e gestar o embrião. Esse período dura 5 a 6 dias.
Anestro
Por fim, temos o anestro. Essa fase pode ocorrer de 3 formas:
- após um prolongamento espontâneo do corpo lúteo;
- logo depois da luteólise de um corpo lúteo regular;
- após atresia folicular.
No entanto, o anestro verdadeiro é o período de inatividade ovariana sem ovulação, com baixos níveis séricos de progesterona, perda do tônus uterino e atrofia gonadal.
Como monitorar as fases do ciclo estral de éguas ?
A identificação correta do ciclo estral em éguas é um pouco mais complicada pois, diferente do que ocorre na vaca, ele não é tão preciso.
Essa falta de definição pode prejudicar a aplicação de biotécnicas reprodutivas que envolvam a precisão do cio, como de inseminação artificial e da transferência de embriões ou mesmo a monta natural.
Portanto, faz-se necessário um estudo prévio do histórico reprodutivo de cada égua já que suas características tendem a se repetir de um ciclo a outro e de uma estação a outra.
De toda forma, o animal demonstra alguns sinais de que está no período de estro, como:
- Olhos brilhantes
- Cauda levantada
- Relincha a procura de macho
- Maior frequência de urina
- Movimento do clitóris
- Vulva inchada
Com a nítida dificuldade de precisar o momento da ovulação, a ultrassonografia veterinária é essencial para um monitoramento mais acurado
Com o exame no modo B, preto e branco, é possível obter as características morfoecogênitas do trato reprodutivo assim como o desenvolvimento folicular. Já ultrassonografia veterinária com doppler oferece novas possibilidades para avaliar as mudanças em toda a hemodinâmica uterina e ovariana durante.
Dessa forma, é possível observar a vascularização na região, bem como o desenvolvimento de folículos ovulatórios. Além disso, é possível determinar com precisão o melhor momento para prosseguir com a inseminação. Seja natural ou artificial.
Do mesmo modo, no período após a inseminação, a ultrassonografia doppler irá auxiliar a identificar a gestação de forma precoce. Isso por que, nos primeiros dias após a cobertura ou inseminação, o útero da fêmea se torna mais vascularizado devido ao transporte espermático e a preparação do corpo para para gestar o embrião. Dessa forma, é possível identificar a formação da vesícula embrionária a partir de 9 dias após a fecundação.
Portanto, o monitoramento do ciclo estral é importante para garantir eficiência no manejo reprodutivo. Ou seja, é preciso ter conhecimento da anatomia dos animais e investir em bons equipamentos.
Quer aprender como monitorar o ciclo estral de éguas? Confira essa dica:
Curso de Ultrassonografia e Palpação Retal em Equinos
Fontes: Blog do Mundo Veterinário, Revistas Unipar e Braz.J.Vet.Res.Anim.Sci.