Leptospirose canina pode provocar doença renal crônica

 

Humanos e animais podem ser contaminados por leptospirose, que consiste em uma importante doença infectocontagiosa, de notificação compulsória.

A bactéria do gênero Letospira é o agente etiológico da doença.  A zoonose é uma das mais frequentes, concentrando-se especialmente nos meses chuvosos, em regiões alagadas e/ou nas que apresentam precário sistema de saneamento básico.

Esta patologia, nos cães, caracteriza-se por desordem renal e/ou hepática aguda, podendo, em muitos casos, levar à septicemia. Os quadros crônicos desta moléstia resultam em sequelas como, por exemplo, doença renal crônica.

A bactéria causadora da leptospirose é aeróbia ou microaerófila, gram-negativa e faz parte da ordem das espiroquetas.

As leptospiras são subdividas em sorovares, baseados nas diferenças antigênicas. Os cães são os hospedeiros primários das seguintes leptospiras: L. canicola e L. bataviae. Infrequentemente, os cães também podem ser hospedeiros, acidentalmente, da L. gipptyphosa, L. pomona, L. icterohaemorrhagiae e L. bratislava.

Os sorovares grippotyphosa e pomona são causas infecciosas importantes de insuficiência renal aguda em cães. Os sorovares bratislava, ballum, australis, hardjo e bataviae têm sido implicados em doença canina hepática e doença renal por todo o mundo.

O contágio entre cães pode ocorrer por contato direto com animais infectados, ou por transmissão indireta, com um animal susceptível ficando exposto a um ambiente contaminado. Este patógeno penetra no organismo através das mucosas ou pele lesionada. Após 4 a 11 dias de ocorrida a infecção, a bactéria alcança a corrente sanguínea, multiplicando-se rapidamente, originando a leptospiremia.

O animal contaminado inicialmente apresenta febre, leucocitose e albuminúria. Em alguns animais a bactéria pode disseminar-se pelo organismo, invadindo órgãos pelos quais este agente possui tropismo, como o fígado, rins, baço, olhos, sistema nervoso central, podendo levar a danos severos. Podem surgir petéquias, equimoses, icterícia, lesões hepáticas e renais graves, podendo ocasionar, neste momento, a morte do animal em decorrência de uma insuficiência renal ou hepática.

A recuperação do animal ocorre quando a bactéria é eliminada do organismo. Nos casos onde as lesões nos órgãos foram pequenas a recuperação é mais rápida. Contudo, o patógeno pode alojar-se em locais onde os antígenos não alcançam como: córnea e túbulos renais, resultando em uveíte e leptospirúria, respectivamente. Esta última pode persistir por anos, compondo uma fonte de infecção para outros animais.

Em cães, a sintomatologia da leptospirose é variável, podendo apresentar-se sob as formas aguda, peraguda ou crônica. Os sinais clínicos dependem da idade do animal, imunidade do hospedeiro, fatores ambientais e a virulência do sorovar.

Infecções peragudas levam à leptospiremia intensa, choque, e morte do animal. Em infecções menos agudas observam-se febre, anorexia, vômitos incoercíveis, desidratação, poliúria, polidipsia, e relutância ao movimento. Com a progressão do quadro pode surgir oligúria e anúria.

Na forma crônica, podem não haver sinais clínicos evidentes. O animal pode apresentar febre sem motivo aparente e conjuntivite moderada a severa. No entanto, distúrbios renais e hepáticos crônicos podem surgir em consequência da leptospirose.

Animais jovens que não foram vacinados, ou cujas mães não foram vacinadas, possuem um risco maior de desenvolver a doença peraguda, podendo levar o animal a morte devido à septicemia ou ainda intensa hemólise.

O diagnóstico da leptospirose consiste em detectar a bactéria no sangue ou na urina do animal acometido ou demonstrar um aumento nos títulos de anticorpos para um determinado sorovar. O diagnóstico laboratorial inclui hematologia, urinálise, sorologia e identificação da bactéria em tecidos apropriados.

O objetivo principal do tratamento durante a fase aguda da doença é manter o paciente estável e prevenir a extensão das lesões no fígado e rins, além de suprimir a leptospirúria.

Os animais em fase aguda necessitam de terapia intensiva de suporte dependendo da severidade do quadro. O prognóstico é reservado quando já está instalada a insuficiência renal e/ou disfunção hepática, e desfavorável em pacientes com choque ou coagulação intravascular disseminada.

O uso de antibióticos inibe a multiplicação destes organismos reduzindo complicações. Vários antibióticos podem ser utilizados na eliminação da leptospiremia como penicilina, ampicilina, amoxicilina. Estudos mais recentes têm demonstrado alta eficácia da doxiciclina (5 a 10 mg/Kg BID) para o tratamento da leptospiremia e principalmente da leptospirúria. Não devem ser utilizados aminoglicosídeos e estreptomicina até a total recuperação da função renal.

O controle deve ser feito através da vacinação dos animais, uma vez que não há como eliminar os reservatórios deste patógeno. Este controle requer especial atenção, haja vista a alta taxa de mortalidade apesar dos tratamentos intensivos e de sequelas irreversíveis. A vacinação tem sido efetiva reduzindo a prevalência e severidade da doença.  Animais jovens que não foram vacinados, ou que nasceram de mães não vacinadas, apresentam maiores chances de desenvolverem a forma peraguda da doença.

Autor(a): Débora Carvalho Meldau

 

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