Plantio de café sob irrigação no semiárido

O Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Café (CBPDE) vai apoiar a realização de um projeto coordenado pela Embrapa Semi-Árido que irá avaliar a viabilidade técnica e econômica de plantio da espécie em áreas irrigadas do Vale do Submédio São Francisco. As instituições realizarão estudos para orientar investimentos do setor privado na implantação da cafeicultura na região. De início, o projeto, também apoiado pela Codevasf, prevê a instalação de 2 hectares de variedades de café Arábica e Robusta, para testes de manejo e de desempenho produtivo nas condições do ambiente quente e seco do Vale. Secagem – O Robusta tem características que são relevantes para enfrentar o rigor do clima da região: variedades rústicas e com maior resistência a doenças e pragas, como a Conilon. No entanto, há uma experiência de plantio de Catuai Vermelho (Arábica) no município de Jaguarari (a 80 km de Juazeiro-BA), que chega a colher 120 sacos por hectare. É uma produção bem acima da média nacional para essa variedade: 55 sacos por hectare. De acordo com o Gerente Geral da Embrapa Café, Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca, o Vale do Submédio São Francisco apresenta limitações que não chegam a determinar a inviabilidade da cafeicultura na região. As temperaturas médias (25 graus centígrados), por exemplo, não implicariam problema maior ao plantio. Esta condição é semelhante à que se apresenta em áreas tradicionais de plantio no Espírito Santo. Contudo, a média das temperaturas máximas acima de 26 graus centígrados pode afetar o desempenho agronômico do café Arábica, mas não é fator limitante para o Conilon que produz bem nessa condição. Essas temperaturas, por outro lado, favorece o processo de secagem do café, e torna desnecessário o investimento em equipamentos que chegam a ser intensivos no uso de lenha para realizar esta etapa da colheita. Para Aymbiré, alguns testes previstos no projeto, como o cultivo consorciado com espécies mais altas como a grevílea, bananeira e o coqueiro, deve confirmar resultado já obtido em áreas de produção do Espírito Santo e sul da Bahia que ao sombrear áreas cultivadas com café, podem fazer a temperatura baixar entre 2 e 4 graus centígrados. Diferente – Pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper), Dr. Romário Gava Ferrão considera que o cultivo de café pode ser uma alternativa promissora para o Vale do São Francisco. Para ele, combinar na mesma área café e “árvores” é um modo de cultivo sustentável e isso pode vir ser o diferencial da produção nessas condições. A experiência dos agricultores do Vale com a irrigação e a consciência de processos como os de pós-colheita, favorecem a implantação de uma cafeicultura diferente da praticada nas áreas de produção do Brasil. Para Aymbiré, os agricultores com esse perfil são melhores formados tecnicamente e mais aptos a desenvolverem uma atividade com uso intensivo de tecnologias. Irrigação – A pesquisa com café em áreas irrigadas busca viabilizar a espécie como opção para diversificar os cultivos no Vale do São Francisco. A agricultura irrigada da região enfrenta frequentes problemas produtivos e de mercado, consequência de riscos climáticos e preços baixos, que afetam tanto a agricultura empresarial quanto a familiar com sérios prejuízos financeiros. Segundo os pesquisadores de Embrapa Semi-Árido, Marcos Braga e José Maria Pinto, o café possui valor comercial menos sujeito à sazonalidade de preços, além de não ser perecível: pode ser armazenado e posto à venda em períodos favoráveis de mercado. É uma cultura que emprega mão-de-obra durante todo ciclo produtivo. Para eles, a irrigação e o ambiente seco podem fazer com a produção seja planejada safra para a época do ano de maior demanda, o que já acontece com as culturas de alta produtividade da região (manga e uva). José Maria e Marcos consideram que vencida as barreiras técnicas, há um grande mercado a ser explorado, como o que existe para a variedade Conilon. Utilizada no processamento de café solúvel, há uma demanda no país de 11-12 milhões de sacos, contra uma produção nacional de apenas 7 milhões de sacos. “Pode se tornar, portanto, uma alternativa competitiva para a agricultura irrigada do Vale do Rio São Francisco”.

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